Em um momento em que a iniciativa privada toma conta do setor espacial, fica claro que empresas como a SpaceX e a Blue Origin foram criadas para muito além do turismo espacial e da ostentação dos milionários
Por Emerson Granemann*
Levar pessoas ao espaço, sejam turistas da SpaceX ou Blue Origin, astronautas ou quem futuramente deve habitar colônias na Lua ou em Marte, é sem dúvida uma parte importante de um processo que vem sendo chamado de New Space, uma nova forma de atingir e usar o espaço, movido principalmente pela iniciativa privada.
Uma outra parte desse processo, quase invisível, é o transporte de cargas para prover a infraestrutura de bases espaciais e levar novos artefatos para colocar em órbita, como satélites de mapeamento, localização, comunicação e de banda larga. Sem falar dos nanossatélites, que pesam menos de 10 quilos, e que permitem a qualquer startup entrar nesse mercado.
Enviar algo para o espaço já foi algo terrivelmente caro. Mas com alta tecnologia e simplificação de operações de lançamento, esse custo já caiu 25 vezes, segundo a Nasa. E a tendência é que fique ainda mais barato. É a lógica do mais por menos. Aliás, do muito mais, afinal o setor espacial é um negócio bilionário. De acordo com a Satellite Industry Association (SIA) e a Morgan Stanley’s Space Team, o faturamento do setor em 2020 foi de US$ 341 bilhões e a projeção para 2040 é ultrapassar US$ 1 trilhão.
Importante destacar que as oportunidades não são só as diretamente envolvidas no setor espacial. Ela reverbera em vários outros setores da economia e tem influência direta e indireta em outros mercados, como saúde, mineração, meio ambiente e a ciência pura e aplicada. A tecnologia de posicionamento global, popularmente conhecida como GPS, e as imagens de satélites cada vez mais precisas que nos permitem conhecer cada detalhe do planeta e prever o tempo com cada vez mais exatidão.
E quando estamos no espaço, podemos olhar para a Terra e nos desprender dos grilhões ideológicos, nacionalistas, culturais e religiosos para valorizar mais o planeta como nossa casa atual, conservando seus recursos de forma sustentável e nos preparando para ampliar nossas fronteiras fora daqui
Nossa curiosidade como seres humanos nos fez sair da idade da pedra, vencer oceanos, provar que a Terra não é o centro do universo, comprovar a teoria da evolução, conquistar novos continentes, mesmo nem sempre fazendo da melhor forma. Estamos evoluindo e vivendo em um mundo com mais recursos. Se não ainda para todos, mas para uma parte significativa dos terráqueos.
Por isso, o futuro da conquista espacial não é só favorável a Elon Musk, Jeff Bezos e Richard Branson. Centenas de outras empresas fazem parte desta cadeia produtiva com milhares de pessoas envolvidas e bilhões de terráqueos sendo impactados. Este novo momento do setor espacial é empolgante, com o predomínio da iniciativa privada e das aplicações para uso civil.
Ousando ir cada vez mais longe no espaço e visualizar a Terra sob este ponto de vista pode nos trazer mais paz e prosperidade.
*Emerson Granemann é CEO da MundoGEO, empresa que idealizou e organizou o SpaceBR Show, evento 100% online e gratuito sobre o setor espacial.